Cerca de 300 medidas protetivas a mais foram solicitadas em 2023, comparado ao ano de 2022.
A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Feira de Santana fechou o balanço com todos os dados referente ao ano de 2023. Os números altos, indicam uma grande preocupação por parte da Segurança Pública.
Somente em Feira de Santana, 1.481 casos de ameaças foram registrados em 2023, sendo acompanhado de 522 notificações de lesão corporal e 49 registros de estupro. No ano de 2022, 654 pedidos de medidas protetivas foram solicitados, enquanto que em 2023, 920 mulheres entraram nas estatísticas da Polícia Civil.
A reportagem do Acorda Cidade conversou com a delegada titular da Deam, Maria Clécia Vasconcelos. Segundo ela, a rede de proteção em favor da mulher está apresentando bons resultados, mas ainda é necessário mudanças.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“Foi um ano muito produtivo, muitas autuações em flagrante, muitos inquéritos enviados à Justiça, houve um acréscimo do número de tentativas de feminicídio, contudo um número de feminicídios reduzido expressivamente. O número de ocorrências também aumentou, então a análise que eu faço deste ano que passou, é de que a rede de proteção à mulher em Feira de Santana atuou, é este o diferencial desta rede, mas que muita coisa ainda precisa ser feita. Recursos humanos é a nossa maior dificuldade, nós precisamos pugnar mais e com ações mais céleres, como, por exemplo, autuações de flagrante delito, a mulher chega aqui, e olha que é uma média de 15 a 20 ocorrências diária, e tudo aqui em uma Delegacia da Mulher é muito urgente, então precisamos de políticas públicas mais específicas, nós precisamos incrementar o nosso quadro que está envelhecendo, que está aposentando e não está sendo completado, mas nem tudo é reclamação. Nós neste ano, mudaremos para uma sede nova, nossa própria da Secretaria de Segurança junto ao DPT, estamos na iminência de receber novos servidores de concursos, temos um novo departamento que direciona as ações da Deam, foi um ano de conquistas, foi um ano de desafios, então estamos animados para que neste ano já comecem a ter reflexos deste novo entendimento”, relatou.
Questionada sobre o que leva a mulher continuar morando com o agressor, a delegada afirmou que existem diversas razões.
“Eu poderia dizer com todas as teorias dos livros que a gente lê, das questões de gêneros da sociologia, das ciências sociais, que é difícil para esta mulher entender que está vivendo em um relacionamento abusivo, é difícil para esta mulher que muitas vezes depende financeiramente, é difícil para esta mulher reconhecer porque depende também emocionalmente, porque existem vários tipos de dependência, mas cada pessoa é uma pessoa. O que é que eu vou dizer para uma mulher que tem diversos filhos que no primeiro abuso, ela deixe o cara, e quem vai fazer a feira? Quem é que vai pagar o aluguel? A energia? Então isso é muito difícil, vai de pessoa para pessoa”, pontuou.
Para a delegada Clécia Vasconcelos, não é permissível dizer que um homem agrediu a companheira pois estava fora de si.
“Fora de si, é um inocente, um bobinho, não sabe o que está fazendo. Por que que ele não vai agredir um valentão na rua, no sinal quando tentar assaltá-lo, coisa assim? Por que não vai? É muito mais fácil entender o perfil do homem que agride, do que o perfil da mulher que cala diante de uma agressão, isso não quer dizer que ela esteja consentindo, que ela é agredida porque quer, e isso mostra as vulnerabilidades, a fragilidade desta mulher e neste contexto social, ela é vulnerável sim, mas este homem agride porque ele vê uma mulher como um ser mais fraco, um ser que é dependente dele, que não é protagonista da própria história, que está ali para fazer o que ele quer, satisfazer os caprichos sexuais, até na mesa na hora da comida, tem que ser o que ele quer e muitas vezes nem o dinheiro para comprar, ele dá”, declarou.
De acordo com a delegada, a prisão em flagrante é um dos grandes recursos que a Polícia Civil, juntamente com a Polícia Militar, consegue para diminuir os casos de feminicídio.
“A primeira medida é a prisão, esta resolve muito, pois o valentão está lá quebrando tudo, então chamam a PM, chama a Civil, os meninos vão e quando eles chegam aqui, chegam mansinho, então a prisão em flagrante é um grande trunfo pois consegue estancar a violência naquele momento, diminuindo assim, a possibilidade de um feminicídio. A medida protetiva consegue devolver a mulher, tudo aquilo que aflige, ou seja, é possível devolver uma tranquilidade e isso mostra a importância e quando está próximo de encerrar o prazo da medida, elas ficam com receio de ficarem desprotegidas, então elas buscam logo renovar essa proteção”, informou à reportagem do Acorda Cidade.
Cerca de 10 até 12 medidas protetivas são solicitadas por dia na Deam. Segundo a delegada Clécia Vasconcelos, a mulher também é uma grande protagonista neste
“Tem dias aqui na delegacia, que são requeridas cerca de 10 até 12 medidas protetivas, ou seja, muitas medidas foram solicitadas neste ano de 2023. Mas é importante salientar que também existem regras. O estado, a Polícia Civil, a Polícia Militar, a Ronda Maria da Penha, a rede de proteção à mulher em Feira de Santana está muito atuante, mas entenda, quem é o maior responsável pela sua segurança é você, se você tem uma medida protetiva e você está está sendo desrespeitada, o indivíduo não está obedecendo, liga imediatamente para a PM, vem aqui que a gente toma as medidas, agora se você vai até o local sabendo que o indivíduo está lá, lembrando que eu não estou culpando esta mulher, mas é preciso ter uma conduta proativa para a própria segurança. Não pode negligenciar, se tem uma medida protetiva, é porque ela corre o risco e o risco é iminente. Então esta mulher precisa cooperar também para a própria segurança. Todo este aumento do número de casos, mostra a dinâmica da violência contra a mulher, que realmente não é mimimi, é necessário falar sobre esse assunto novamente, porque mulheres estão sendo agredidas, estão sendo violentadas, estão sendo mortas, tão somente pela condição de ser mulher”, concluiu.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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