De acordo com a investigação, os alvos de ataques cibernéticos, entre eles o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol, teriam ultrapassado os 3 mil.
Walter Delgatti Neto acaba de ser condenado a 20 anos e 1 mês de prisão, e ao pagamento de multa (736 dias-multa), pelos crimes de interceptação de comunicações telefônicas, organização criminosa, lavagem de dinheiro e ocultação de bens, além de invasão de dispositivo informático alheio com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização do usuário. A sentença foi proferida pelo juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal Criminal do DF, responsável pela ação pela decorrente da Operação Spoofing, que investigou as invasões do aplicativo Telegram de celulares de Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros investigadores que integraram a Lava Jato, além de autoridades dos Três Poderes, empresários, artistas e jornalistas.
Em sua decisão, obtida pela Jovem Pan News, o magistrado majorou a culpabilidade de Delgatti em “grau exasperado, já que seus ataques cibernéticos foram direcionados a diversas autoridades públicas, em especial agentes responsáveis pela persecução penal, além de diversos outros indivíduos que possuem destaque social”. Também pesou sua reincidência, conforme ficha criminal, e uso de identidade falsa para escapar de mandado de prisão.
Para Leite, a personalidade de Delgatti também “deve ser avaliada de forma desfavorável, ante o exibicionismo de suas condutas ilícitas (materializadas nas imagens encontradas em seu computador)”, portando armas, dinheiro e exibindo carros de luxo. O juiz ressaltou que o condenado em nenhum momento se arrependeu dos crimes praticado, muito pelo contrário, intitulando seus atos criminosos como “ajuda ao povo brasileiro”. De acordo com a investigação, os alvos de ataques cibernéticos de Delgatti e seus comparsas teriam ultrapassado os 3 mil.
Também foram condenados Gustavo Henrique Elias Santos (a 13 anos e 9 meses de reclusão e 520 dias-multa), Thiago Eliezer Martins Santos (18 anos e 11 meses de reclusão e 547 dias-multa), Suelen Priscila De Oliveira (6 anos de reclusão e 20 dias-multa) e Danilo Cristiano Marques (10 anos e 5 meses de reclusão e 100 dias-multa). Luiz Henrique Molição também foi condenado, mas recebeu perdão judicial após delação premiada.
Depoimento na CPMI e pivô do caso Zambelli
Delgatti Neto é pivô de uma investigação que envolve a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). A parlamentar é apontada como intermediadora de um plano que incluía a invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), expedindo um mandado de prisão contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes. O hacker da “Vaza Jato” teria recebido ao menos R$ 13,5 mil, em depósitos bancários, nos meses anteriores e posteriores ao acesso ao CNJ. Como a Jovem Pan mostrou, em depoimento à Polícia Federal, Delgatti disse que recebeu R$ 40 mil de Zambelli – o restante foi dado em espécie. Segundo a defesa, o hacker apresentou provas relacionadas aos pagamentos. “Como Delgatti está colaborando com a Justiça, colaborando com as investigações, a expectativa é que ele seja colocado em liberdade em breve”, explicou o advogado Ariovaldo Moreira. A defesa da deputada do PL afirma que o hacker nega as acusações e diz que o hacker “usa e abusa de fantasias”.
O hacker da “Vaza Jato” também depôs à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos do 8 de Janeiro. Na oitiva, Delgatti disse, entre outras coisas, que o então presidente Jair Bolsonaro o ofereceu um indulto em troca da invasão das urnas eletrônicas, caso ele fosse preso. Aos parlamentares, Neto também afirmou que Bolsonaro também o pediu para assumir um grampo que teria sido feito no telefone de Moraes. (JP).